Capitu
Zélia Duncan
Composição: (Luiz Tatit)


(...)
A ressaca dos mares
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu
A mulher em milhares
Capitu



quarta-feira, 30 de dezembro de 2009


Transfiguração

Cavalgava nua pelas estrelas inebriada do perfume de Vênus,
Destilava fados misteriosos a quem a invocasse,
Vestia-se de luz e saia secretamente quando seus amantes adormeciam,
Era o poema em si das várias silhuetas de mulheres da vida,
Resplandecia em plena noite enquanto a escuridão perdurava,
Passeava por nortes desconhecidos,
Atraía pra si desejos etéreos de homens carnais,
Brincava de ser livre, deusa sublime.
Um dia quis ser chão, raiz, consolo,
Apossou-se de seus segredos e os guardou,
Brincou de ser mulher, de carne e de osso,
E pela primeira vez sentiu, sorriu e chorou.

(F Christtiani)

As Águas em Mim


Debaixo dos teus pés espinha,
Neste terreno pedregoso,
Vasta aguada.
Na ânsia enobrece desse espinhar,
No tato daquele que sente,
As águas que eu trago em meu olhar.

Tento abruptamente carregar-te para o fundo,
Afogar-te nessas águas.
Sereia, desfilo na borda de tuas orelhas,
E é minha alma que te sussurra
Encantos e feitiços que a tua sorte destelha.

Ainda que a inquietude habite o meu encosto
E navegue pelas minhas águas como fardo,
Também é a minha centelha, que não se molha,
E me move para superfície.

Essa vontade de mover-me, envolver-te
Para afogarmos em nós,
Não perece a distancia do teu entusiasmo.

A contar pelas vítimas desse meu arrombo
Serias menos um e somar-se-ia a mim.

Serás minha próxima vítima, e eu também, nessa sorte maldita.

(F. Christtiani)


...Pecado de um Deus...

E...
Durante a noite silente,
Postaria trovas em nuvens,
Entoaria versos
De ilustrações sublimes
Daquilo que sinto,
Apanharia um raio de sol
Pra iluminar meus olhos
Quando fossem habitar os teus.
Ah, eu seria Deus, teu Deus,
Teu céu, a tua paz.
Também seria o pecado
Do desejo superlativo,
Pra tua carne, calidamente,
Saborear...

(F Christtiani)

Marcianos – os homens são de marte


Não deixarei invadirem minha casa
Derrubarem meu vaso chinês
Quebrarem o meu porta-retratos
Não permitirei que derramem álcool
Dentro do meu aquário
Isso é covardia
Já estou espreitando a porta
Com uma arma na mão
Não deixarei que me iludam novamente
Com uma doce serenata e uma caixa de bombons
É assim que eles invadem
Sem a gente perceber
E quando menos esperamos
Fazem tudo que não devem fazer
Não deixarei novamente
Invadirem minha casa
Destruírem minha vida
Desestabilizarem o meu coração
Já estou em guarda à porta
Com o instinto nos olhos
E uma arma na mão.


(F. Christtiani )