Capitu
Zélia Duncan
Composição: (Luiz Tatit)


(...)
A ressaca dos mares
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu
A mulher em milhares
Capitu



domingo, 3 de janeiro de 2010


O Universo em mim


Se eu fecho os olhos

Mergulho no infinito,

Aqui dentro tudo é tão grande,

É tão novo, há um imenso espaço a descobrir...

Pra que naves espaciais

Se a mais longa viagem que um homem pode fazer

É dentro de si?

Essa eterna descoberta

Não cessa,

Não tem fim.

Eu já vi estrelas de perto,

Brinquei com um cometa

E até mesmo pude tocar o sol.

Eu conheço o buraco negro,

Já me vesti de Nebulosa,

Cantei pra Vênus

E contei os meus segredos.

Eu pude sentir todo o universo

Dentro de mim...


(F. Christtiani)

Inspiração


Busco minha inspiração na ânsia de uma loucura

Que desliza soturnamente entre a esperança e o desprezo,

Como um divisor de águas sobre o qual

Pairo, indefinidamente.
(F. Christtiani)


Perdendo Partes


Minh' alma desbaratinada tonteia, vagueia

Em meio às lacunas que há em mim.

E, a cada vão que passa,

Desagua noites

Correntes em riachos

De turbidez sem fim.

Perplexa, em frente aos abismos,

Rabisca pontes tecidas de lembranças.

E correndo pr'outros lados

Sempre esquece, de fato,

Pedaços enormes de mim.


(F. Christtiani)

A Maldição da luz


O escuro havia me acolhido,

Diluído minhas dores,

Amansado o meu coração.

A caverna foi por um tempo

O melhor abrigo .

quela constância cega e fria

Silenciava o tempo e o espaço

Que outrora berravam

Sons e imagens que me houvera feito tanto mal.

Ao mesmo passo que preenchia o vácuo da solidão

O escuro se fazia a minha companhia.

O vazio era a minha imensidão,

Permanecia tudo tão tranqüilo...

Até que, em um instante, acendeu-se uma pequena faísca.

Tomou conta do lugar,

Revelando-me novamente a figuração

De tudo que havia abafado em minha mente.

De repente ouvi de novo os gritos, vi imagens.

Lembranças que haviam cicatrizado em meu corpo

Abriram-se novamente em feridas,

E agora nem o silêncio, nem a noite,

Conseguem afastar de mim os fantasmas

Que acordaram .

Voltaram todos,

Mais vivos e mais fortes que antes.


(F. Christtiani)

Nua


Num deslumbre eufórico

De uma sublime vista à janela

Ela sonha com amores desconhecidos,

Tece a teia e desce pela sala

Embriagada na certeza de uma chama viva.

Já de fora rasga todo seu vestido,

Nua sai, rua adentra

Trazendo pra si os olhares envaidecidos

De pousadas senhoras desvairadas, adormecidas.

Rica de sentidos, espalha pelo espaço

Risos e encantos, luminosos atos.

A dama virgem que um dia sonhou

Agora encontra a paz no verdadeiro amor.


(F. Christtiani)

Desbravador


O custo da ousadia não trava meus impulsos,

Mas trata mal meu coração,

Faz dele um asilo aonde passo as tardes a esperar uma visita que nunca chega.

O preço da liberdade se equivale ao tamanho das dúvidas.

Mas, no meio a tantas equações,

Noto que o resultado final é sempre indefinido.

E, por isso mesmo, motivo para continuar.

O que me move são as interrogações,

E não os argumentos.

Nesta jornada, não tenho tempo a perder;

Meu objetivo não é simples:

Colecionar fotos de mundos obscuros,

Desbravar universos dentro de mim...


(F. Christtiani)

Fausto cigano e eu


Na ebriedade eloqüente tecida sob goles de um vinho barato


Animo, em memória, histórias suicidas


De uma inda sem vinda,


De uma estrada de morte,


De uma busca perdida


Num caminho sem sorte.




Recordo os ais de um vagabundo violão


Que tão pouco me tocaste o ouvido,


Cujo moço, o dono, um cigano barato


Vendido ao diabo por míseros tratos,


Fizeste-me sofrida.




Ó, moço!


Ao partir, levaste meu coração.


Mas não deste valor, e o trocou por rum


Numa taberna esquálida com cheiro de ranço,


Deixando-me à sorte de uma vida sem prumo.




Hoje me encontro tão moribunda quanto quem que me envenenou.


A dor infecta, dilacera e nulifica a pureza de uma nobre alma.




São muitos os vendidos que se vão, de mão em mão,


Intoxicando sonhos de amor,


Buscando migalhas de vida,


Apagando luzes por entre sorrisos e doces apreços,


Corrompendo um sentimento que já não sentem


Por trás de sinceras mentiras, paixões incandescentes,


A trabalho pro diabo, em troca de ilusões.


(F. Christtiani)

sábado, 2 de janeiro de 2010



╚┐Não me esqueça!┌╝


Não me esqueça

Como se esquece algo assim, qualquer.


Não me esqueça

Como se esquece a letra de uma música

Ou um verso de um poema.


Não me esqueça!

Não me mate dentro do teu peito.


Deixa-me abraçar teus pensamentos,

Deixa-me estar

Em cada amanhecer,

Em cada crepúsculo,

No brilho do sol,

Numa doce melodia,

Junto a ti;

(Co)habitar-te eternamente,

Pra dizer que também nunca te esquecerei.


(F. Christtiani)

••Bar¢o a vela••

Porque você é jóia rara que deixei no mar.

De ilusões? Talvez!

Quem saberá?


Mareado de amor, não quis ancorar;

Tive medo de ser sonho

E depois acordar.


Guardei-te protegido em minhas memórias.


Marinheira experiente, toquei meu barco em direção a outros mares,

Onde a magia de uma maré misteriosamente mansa

Não pudesse me afogar.


Medo ou prudência, sei lá!

Nada mais importa,

Já estou há milhas,

E os ventos não hão de ajudar-nos.


(F. Christtiani)

))) Imaculada (((


Não me censure se ajo calada

Na neblina da noite

Enquanto até os sonhos dormem.

Não me censure se faço coisas

Que parecem dizer o que te disse, mas ao contrário.

Não me censure se te procuro em outros braços,

Se nego a entregar-me,

Se tenho mil medos ou apenas coragem,

Se a vida que pinto

Parece de perto muito mais abstrata.

Não me censure!

Não se iluda! mulheres são mulheres.

Não me entenda,

Apenas me ame,

Em sonhos,

E me deixe te amar, aí guardada,

Imaculada,

Dentro de ti.


(F. Christtiani)

...A Ermo, A Esmo...


Eis-me aqui!

Eis-te aí!

A ermo, nós,

Todos nós,

Cheios de nós

Desatáveis.

A esmo

Eis o tempo,

O espaço,

E entre eles

Nossos passos,

Incalculáveis,

Que distancia

Cada dia mais

Tudo o que seria

E não foi,

Tudo o que demais

Cansou, por si,

O exaustivo amor.


(F. Christtiani)